Analisadores de Código do Roslyn: o conceito por detrás do conceito

O recente lançamento do Visual Studio 2015 Preview trouxe, dentre diversas novidades, uma que despertou a atenção da comunidade de desenvolvedores .NET: os analisadores de código (“code analyzers”). Isso porque desde que o novo compilador gerenciado do C# e VB (codinome “Roslyn”) foi anunciado, um dos tópicos mais discutidos nas rodas de desenvolvedores era “o ReSharper está com seus dias contados!”

Afinal, quase toda demo de Roslyn mostrava como inspecionar o código-fonte à medida que ele era digitado, sendo compilado e disponibilizado em tempo real através dos serviços do compilador, de modo que fosse possível sugerir correções de código (“code fixes”).

Agora que o VS2015 está disponível para experimentação, finalmente a comunidade open-source de .NET tem a oportunidade de materializar seu sonho de “matar” o ReSharper, oferecendo nativamente no Visual Studio os mesmo recursos que até então só estavam disponíveis em ferramentas comerciais como o próprio ReSharper e seus concorrentes (como o CodeRush).

O que ninguém ainda havia te contado é que o recurso de Code Analyzers não foi criado para ser um substituto do ReSharper. Esse é apenas um efeito colateral positivo. O propósito real é o de corrigir as limitações de uma outra ferramenta do Visual Studio: o Code Analysis (também conhecido como FxCop).

Consertando o “inconsertável”

O FxCop (incorporado ao Visual Studio com o nome de Code Analysis) era, originalmente, uma ferramenta criada pelo time do .NET Framework para inspecionar o código do próprio .NET, de modo a reduzir o risco de produzirem código inadequado para um framework com a abrangência e criticidade do .NET (daí o nome FxCop, ou “Framework Cop”).

Apesar de extremamente útil, a ferramenta de Análise de Código do Visual Studio, em sua atual implementação baseada no FxCop original, tem diversas limitações. Algumas delas são:

  • Feedback lento: O FxCop analisa código compilado. E como ele é uma ferramenta externa ao compilador, precisa esperar que este produza os assemblies antes de poder fazer seu trabalho. Com isso, para se obter algum feedback do FxCop é necessário primeiro compilar o projeto para, então, fazer a análise estática do código (que, por si só, já é lenta). Resumo da ópera: muitos desenvolvedores deixavam de usa-lo para não ter de ficar esperando preciosos segundos a cada compilação;
  • Resultados pouco práticos: Ainda que o FxCop tenha regras úteis e que deveriam ser seguidas para garantir um mínimo de consistência em seu código .NET, o fato é que para muitos desenvolvedores as mensagens do FxCop são totalmente crípticas. O que devo fazer ao receber um alerta de regra violada? Qual correção devo fazer no meu código para atender à regra? Na maioria das vezes, isso não ficava claro;
  • Difícil de estender: Frequentemente, em meus trabalhos com ALM/TFS, sou questionado por clientes se é possível criar regras personalizadas para o FxCop/Code Analysis. Minha resposta é “sim, é possível. Mas é mais fácil achar dinheiro no chão do que criar uma regra para o FxCop.” Não há um SDK formal, e a documentação se restringe a um poucos blogs espalhados pela internet. Estimulante, não?
  • Difícil de distribuir: Mesmo que você eventualmente conseguisse criar sua regra personalizada, distribuí-la não seria exatamente a coisa mais fácil do mundo. Seria necessário instalar o assembly com suas regras na máquina de cada desenvolvedor, bem como em seus servidores de build. Esqueça de uma única máquina e seu processo fica comprometido.

Com o novo modelo de Analisadores de Código introduzido pelo Roslyn, o time de produto endereçou os pontos acima de maneira exemplar. Dê uma olhada no que mudou.

Feedback mais rápido

O serviço de análise de código agora é provido pelo próprio compilador. Ou seja, a compilação e a análise acontecem de forma contínua e transparente, de modo que o feedback possa ser provido no melhor momento possível: no instante em que o código é digitado. Ou seja, ao invés de ter de esperar a compilação e a posterior análise do FxCop, agora temos esse processo acontecendo em tempo real.

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Sugestão de Correções

Este é o ponto que leva as pessoas a acreditar que estamos falando de um “substituto do ReSharper.” Mas a motivação aqui é outra: já que minha ferramenta de análise de código detectou um problema potencial, ao invés de simplesmente direcionar o desenvolvedor para uma documentação sobre o problema – e deixar a cargo do desenvolvedor entender como corrigir o código – por que não já oferecer logo sugestão de correção?

Esse acaba sendo o melhor dos mundos: não apenas um problema potencial foi apontado, mas uma correção potencial foi também sugerida e pode ser aplicada ao código sem depender do desenvolvedor ter de reescrever esse código por conta própria.

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Fácil de estender

Agora finalmente há um SDK para a criação de regras personalizadas para o FxCopRoslyn. Essas regras (chamadas de analyzers na nomenclatura do Roslyn) são muito mais fáceis de ser implementadas, graças ao novo modelo de interação com o compilador e de acesso à árvore de sintaxe do código – que agora atua sobre o código-fonte e não sobre o código compilado, permitindo fazer coisas que não eram possíveis para o FxCop – por exemplo, integrar regras de estilo de código (tais como as do StyleCop). Não é surpresa, portanto, que projetos como o CodeCracker (iniciado por MVPs brasileiros) esteja produzindo tantas regras em tão pouco tempo!

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Fácil de distribuir

Essa foi, para mim, uma das maiores surpresas do novo modelo. Analisadores personalizados podem ser incorporados a um projeto e distribuídos via… NuGet! Nada mais de instalar assemblies nas máquinas de desenvolvedores e em servidores de build. O NuGet faz a mágica para nós, através de seu package restore.

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Conclusão

Temos um belo futuro pela frente. A tecnologia do FxCop já estava obsoleta e pedindo por uma atualização há vários anos. O novo serviço de compilação introduzido pelo projeto Roslyn resolve essas e outras limitações com maestria. Agora é a hora de se envolver, estudar mais sobre a tecnologia e dar asas à imaginação. Que tipos de analisadores de código você gostaria de ter em sua empresa?

Um abraço,
Igor



24/11/2014 | Por Igor Abade V. Leite | Em Técnico | Tempo de leitura: 5 mins.

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